Arroio do Meio – Em evento alusivo ao Dia do Agricultor, realizado sábado (25/07), no CTG Querência do Arroio do Meio, foram apresentadas dez experiências de jovens rurais. O evento, promovido pela Secretaria Municipal da Agricultura, com o apoio da Emater/RS-Ascar, Conselho Arroio-Meense de Desenvolvimento Rural (Conar) e Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR), teve o objetivo de valorizar o trabalho realizado pelos jovens produtores, no sentido de contribuir para o fortalecimento da agricultura na região.
Apresentaram suas experiências os jovens Everton Gerhardt, de Linha 32; Bernardo Friedrich, de Forqueta; Tiago Schmitz, de Passo do Corvo; Diane Aline Hammes, da Cascalheira; Bruno Berwanger, de Forqueta; Leocádio Graf, de Forqueta Baixa; Dhiego Girardi Hendges, de Palmas; Guilherme Brauwers, da Cascalheira; Ivanor Petry, de Rui Barbosa e Diego Fuhr, de Forqueta Baixa.
Todos enfatizaram que a escolha em permanecer no campo se deu pela possibilidade de ser o “dono do próprio negócio”, além de considerar mais justos os ganhos com o trabalho no meio rural particular.
Prestigiaram o evento, o Secretário Estadual de Desenvolvimento Rural e Cooperativismo, Tarcísio Minetto, o diretor técnico da Emater/RS, Lino Moura, os deputados Alceu Moreira e Edson Brum, o gerente adjunto da Emater/RS-Ascar, Carlos Lagemann, além de diversos líderes políticos, representantes de entidades de classe e comunidade em geral.
FENO GARANTE EQUILÍBRIO DA PRODUTIVIDADE
Bernardo Friedrich, 24 anos de Forqueta, fez um relato a respeito da produção de feno. O jovem, filho de caminhoneiro, chegou a trabalhar como funcionário de uma empresa, mas voltou para o interior aos 20 anos, para ajudar a tocar a propriedade junto com a mãe e os avós. Lá são produzidos diariamente em média 300 litros de leite com 18 vacas em lactação. Segundo Friedrich, o feno mantém a produtividade dos bovinos de leite durante o inverno, desde que o processo de fenação seja feito em menos de quatro dias de sol. No município são produzidos cerca de cinco mil fardos anualmente. Os conjuntos de fenação comunitários estão localizados em Passo do Corvo e Forqueta.
AUTOSSUFICIÊNCIA E CUSTO BENEFÍCIO
Diane Aline Hammes, 17 anos, destacou a autossuficiência da propriedade de sua família em Passo do Corvo. Diariamente são produzidos 1,1 mil litros de leite com 45 vacas em lactação. Além disso, contam com 70 novilhas para reposição de plantel. Mas para garantir o equilíbrio da produtividade, além dos cultivos tradicionais e instalações de ponta, são plantados três hectares de feno e 12 hectares milho para grão, para produção de ração própria.
Para isso dar certo, a família conta com quatro tratores, um caminhão para transporte de insumos, ensiladeira, equipamento para fenação, colheitadeira, plantadeira, carretão basculante, distribuidor de esterco líquido, misturador e tratador mecanizado. “Não precisamos de terceiros”, revela a jovem que atua na agricultura desde a infância, por gosto. Diane ainda destaca a utilização de silos trincheira e seu custo benefício: “dá mais serviço na hora de fechar, mas depois a silagem está toda em casa, se gasta menos com diesel e tempo de serviço, e gera menos danos na lavoura, especialmente em períodos chuvosos”, destaca.
QUALIFICAÇÃO GENÉTICA DO REBANHO
Para Bruno Berwanger, 24 anos, de Forqueta, o conhecimento adquirido em um curso de Inseminação Artificial, realizado no Centro de Formação de Agricultores de Montenegro (Cetam), poderá ser aplicado futuramente, com vistas a qualificar a genética do rebanho que mantém na propriedade em que mora com os pais. No local, são 26 vacas em lactação, produzindo uma média de 600 litros por dia. “E um curso desse tipo não serve apenas para inseminar, sendo importante também para conhecer a vaca, sua fisiologia e outros aspectos”, considera.
OPORTUNIDADES NOS NICHOS DO MERCADO
Dhiego Girardi Hendges, 23 anos, revelou que chegou a ser funcionário de um escritório, mas em 2012 seu pai o repatriou para a propriedade em Palmas, para iniciar uma agroindústria de frangos coloniais com ciclo de 90 a 120 dias. “Era um produto que faltava no mercado, onde até então só eram comercializados carcaças de matrizes poedeiras, ou frangos com um mês de terminação. O colonial tem carne mais consistente e sabor diferenciados, sendo mais indicado para assados e cozimentos”, revelou.
No momento a agroindústria pretende dobrar a capacidade de abate de 500 para mil aves por semana. A estrutura conta com nória e cuba de insensibilização (morte a choque), processos de escaldagem, depenagem e limpeza. Quando os frangos são embalados recebem o selo “Sabor Gaúcho” e são colocados na câmara fria. Parte dos produtos atende aos programas governamentais de aquisições de alimentos e outra parte é comercializada no varejo. Todo processo é acompanhado pelo Sistema de Inspeção Municipal.
O jovem revela que a municipalização do Sistema Unificado Estadual de Sanidade Agroindustrial, Familiar, Artesanal e de Pequeno Porte (Susaf) e Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária (Suasa), que está em sendo discutida no Congresso Nacional, será positiva para ampliação das atividades.
INOVAÇÃO DE OLHO NAS TENDÊNCIAS
Guilherme Brauwers, 21 anos, considera a busca contínua pela inovação uma das principais premissas na atividade de hidroponia que desenvolve junto com os pais na Especialidades Vandrea, na Cascalheira. A empresa é a maior de hidropônicos do Estado, com destaque para a distribuição de 700 mil unidades de alface por mês. Produz 30 variedades de folhosas, incluindo variedades de mini-alfaces, além de legumes diferenciados e milho doce.
Todos os procedimentos seguem as normas internacionais de qualidade, com o uso de equipamentos e biotecnologia de ponta. Os produtos higienizados e embalados, observando as tendências do comportamento do mercado. Por isso, a Vandrea tem se destacado por atender a alta gastronomia e grandes redes de varejo na região metropolitana, com produtos direcionados a públicos específicos, como a linha “Detóx Funcional”, agregando valor à marca. E para garantir a entrega dos alimentos fresquinhos, conta com logística própria (três caminhões e duas camionetes).
PROGRESSÃO DOS NEGÓCIOS E OPORTUNIDADES
Ivanor Petry, 29 anos, agradeceu o apoio dos pais, da Emater/Ascar, Sicredi e Administração Municipal, na instalação de sua agroindústria de ovos coloniais. Recordou da época que atuou em um restaurante na região metropolitana e da progressão da agroindústria que conta com aproximadamente 1,8 mil matrizes poedeiras que produzem 180 dúzias diariamente. Os ovos são direcionados a programas governamentais e ao varejo. Além disso, a propriedade conta com gado de corte.
ALTERNATIVAS PARA EVITAR AGROTÓXICOS
O encerramento ficou por conta de Diego Rodrigo Fuhr, 30 anos, de Forqueta Baixa. O jovem realiza o controle biológico da lagarta com Trichogramma desde 2013, espelhado num experimento feito em Colinas com vespinhas. Em sua propriedade de cinco hectares dedicados à silagem, deposita os ovos fertilizados de vespinhas de ponta a ponta, a cada 10 passos e internamente a cada 25 passos. O material é depositado em locais e dias alternados, durante a safra e safrinha. As vespinhas atuam no combate às larvas de borboletas e mariposas que se instalavam na flor da espiga. “Ao invés das lagartas se reproduzirem, nascem as vespinhas, que são uma alternativa viável, e barata, evitando a diminuição do uso de agrotóxicos nas propriedades, uma vez que o Brasil é um dos vilões mundiais”, revelou.
CONSIDERAÇÕES GERAIS
O presidente do STR, Carlos Pedro Kirsch, ressaltou que a apresentação de cases e o diálogo são construtivos e, ao mesmo tempo, o envolvimento dos jovens mostra força na sucessão familiar.
O presidente do Conar, Rafael Rohenkohl, salientou a importância de metas curto, médio e longo prazo, para a realização de objetivos e considera a busca pelo conhecimento um diferencial no campo gerencial e prático do agronegócio. “Não devemos olhar para os vizinhos e sim pensar mais em nós”, ressaltou.
Para o Secretário Municipal da Agricultura, Paulo Roberto Heck, as apresentações dos jovens mostram as tantas possibilidades existentes para a sucessão. “E isso é algo que serve para vislumbrarmos aquilo que será o futuro da agricultura no município”, analisa.
O gerente regional da Emater/RS-Ascar, Marcelo Brandoli, destacou as políticas públicas, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), aliadas ao trabalho em parceria entre as diversas entidades do setor, são fundamentais nesse processo. “Ninguém faz nada sozinho e aqui está a prova disso […] Arroio do Meio é referência em vários ares”, observou. Brandoli também enfatizou a responsabilidade ambiental e a luta pela aposentadoria que valorize a produção.
Na avaliação do prefeito em exercício de Arroio do Meio, Áurio Paulo Scherer, os tempos mudaram, já que hoje ser agricultor é motivo de orgulho. “Na cidade ninguém toma café, almoça ou janta se não houver quem esteja lá, produzindo, de sol a sol”, lembrou. “E é por isso que, neste dia, temos de valorizar todos aqueles que se envolvem com esta atividade tão nobre”, finalizou.
Scherer ainda destacou a importância da parceria entre as entidades comunitárias, órgãos e setores oficiais e a localização privilegiada do município e região no arranjo produtivo estadual.
PROGRAMA MUNICIPAL DE APOIO À JUVENTUDE RURAL
O assistente técnico regional da Emater/Ascar, Paulo Conrad, fez um breve histórico da agricultura no município e desafiou os jovens a potencializarem modelos de associativismo, tendo em vista a criação do Programa de Apoio à Juventude Rural. O projeto pretende a busca de benefícios coletivos na acessibilidade à tecnologia, viabilização de insumos e inserção no mercado, além de fortalecer o diálogo para a sucessão familiar e complementação de renda por meio da diversificação. “Todos precisam ser empreendedores”, classificou.