Ser pai/mãe coruja é redundância. Quando os filhos são necessitam permanentemente de nosso zelo, “babamos” em torno deles. Vibramos quando balbuciam as primeiras palavras. Os olhos ficam marejados com o “dialeto” de expressões e termos que só nós compreendemos. À medida que a autonomia é conquistada diminui a nossa obsessão por cuidados nas 24 horas do dia.
Apesar do crescimento etário deles, é cada vez mais premente a necessidade de manter a vigilância. As tentações, hoje, encontram-se na ponta dos dedos. Os smartphones trazem o mundo com virtude e vícios globais. Quando a televisão reinava absoluta, como maior demônio moderno em forma de eletrodoméstico onipresente, a vigilância parecia fácil.
Hoje, os jovens desenvolvem antídotos para qualquer mecanismo de controle. Desde os mais simples – como desligar o celular sob o pretexto que o aparelho ficou sem bateria – até baixar aplicativos semelhantes àqueles que acusam a existência de blitzes da polícia em avenidas e rodovias.
Confiança mútua é fundamental para manter uma relação civilizada. É preciso que eles saibam, desde cedo, que estamos preocupados, sim, mesmo quando estão no recôndito de seu quarto.
O isolamento, rompido pelo dedilhar frenético ao celular, deve, no que seria “mundo ideal”, ser mesclado com momento de diálogo com pai, mãe, irmãos e até com o cachorro da família.
A relação com os filhos quase sempre é um turbilhão de sentimentos extremados
Não é fácil manter o equilíbrio numa rotina de correria. A variedade de funções que todos desenvolvem – dentro e fora de casa – não permite manter um comportamento ideal que evite conflitos. As discussões são necessárias para o desenvolvimento da consciência crítica e servem de exercício para suportar críticas. Igualzinho ao mundo lá fora!
Meus filhos, um casal de 19 e 21 anos, estão acostumados às batalhas verbais, sem hora para eclodir. Motivos ridículos levam a explosões de argumentos contraditórios como se fosse uma gigantesca linha cruzada. No meio da polvadeira é difícil achar o fio da meada, desatar os nós, promover a paz, fazer todo mundo remar na mesma direção.
Os momentos de convivência com meus filhos atingem o clímax da minha realização quando ouço a frase:
– Bah pai… hoje me lembrei de ti!
Sinto como se marcasse um gol numa final de campeonato. Não pela raridade – graças a Deus! –, mas pela sinceridade que denota. Todos aqueles “sermões” serviram para alguma coisa!
Ser amigo dos filhos é um desafio que demanda renúncia, humildade, reconhecimento de erros para recomeçar. A explosão verbal, que parece um jogo da mora numa festa italiana, vai amainar.
E todos continuarão sendo pais, filhos. E amigos.