Com apoio da Secretaria Municipal da Saúde de Capitão, através do trabalho de divulgação das agentes de saúde, a enfermeira Sheila Berti e a médica Kátia Civardi sentiram-se motivadas a criar grupos de fumantes decididos a largar o vício. Segundo Sheila, “Percebendo o número expressivo de tabagistas no município e considerando a alta morbidade a isto associada, atingindo também os tabagistas passivos, tomamos a iniciativa de criar um grupo com o objetivo de auxiliar as pessoas a pararem de fumar.”
O trabalho segue roteiro e manual elaborados pelo Ministério da Saúde, dividido em quatro encontros, uma vez por semana, de uma hora cada. A partir daí, depois de participarem dos 4 encontros, os integrantes participam de encontros de manutenção, uma vez por mês.
De acordo com Sheila, “O número dos participantes é livre (depende do número de interessados). Já tivemos grupos de 6 pessoas, de 5, de 4, de 2 e até de 1 participante. Não depende de quantidade de participantes, se apenas uma pessoa tem interesse naquele momento, será para essa pessoa. Por enquanto, passaram pela unidade 13 pessoas, sendo que dessas 7 já pararam de fumar e estão há algum tempo sem o cigarro; dos outros 3 desistiram ainda no início (haviam sido ‘mandados’ pelos familiares e não por vontade própria), e 3 ficaram de retornar aos encontros, por estarem passando por outros problemas pessoais. Iniciamos com os grupos no dia 21 de março e toda a semana, desde lá, contamos com participantes, nas quartas-feiras de tarde. Foram 4 turmas (4 semanas cada grupo) até hoje, e estamos muito felizes com os resultados alcançados até o momento. Cada pessoa que para de fumar é uma nova vitória para nós.”
Questionada sobre o que é fundamental para uma pessoa que decide largar o cigarro, Sheila destaca a força de vontade: “ A decisão de ‘Eu vou parar, eu vou conseguir’. Esse é o primeiro passo e o principal. Quem vem aos grupos obrigado, ou sem vontade, vai ter uma dificuldade bem maior para largar o cigarro. Mas quem diz: ‘Estou aqui porque sei que posso e vou conseguir’, consegue sim. Isso é fundamental. E o principal é dar o primeiro passo sempre.”
Um final feliz
Um casal que fumava aproximadamente cem cigarros por dia. Assim era a vida de Amélio e Nilce Fachini, que fumavam desde os 20 e 21 anos, respectivamente.
Eles, que hoje têm 53 anos, contam que resolveram participar do grupo por curiosidade, quando receberam o convite da agente de saúde. Conforme eles, os primeiros 15 dias foram os mais difíceis. Amélio fez cirurgia de hérnia mais ou menos 10 dias após parar de fumar, e ficou bem ansioso. Conta que foi um grande teste de resistência para ele, já que teve que ficar dias em casa sem trabalhar, em repouso. Mas ele disse que, como resistiu nesse período, tem certeza que não vai mais voltar a fumar.
Amanhã, 04 de agosto, completará quatro meses que ambos pararam de fumar. Muito felizes por já sentirem uma melhora na qualidade de vida – mais disposição, respiração mais fácil, maior apetite porque voltaram a sentir o gosto dos alimentos, Amélio e Nilce agradecem a iniciativa da secretaria, dizendo que sempre procuram incentivar as pessoas a participarem dos grupos e largarem de vez o cigarro. E para isso acontecer a força de vontade é essencial, finalizam.
Câncer de pulmão – uma epidemia
O Rio Grande do Sul lidera o ranking brasileiro de casos, sendo o estado com maior número de mortes – 23 por cada 100 mil habitantes. O câncer de pulmão mata pelo menos 2.843 pessoas por ano, entre homens e mulheres. O número (registrado pelo Ministério da Saúde em 2009) é 40,4% maior do que de mortes causadas por acidente de trânsito (2.025, em 2011) e 71,5% maior do que de homicídios (1.657, também no ano passado).
No mundo, as estatísticas são ainda mais alarmantes. Por dia, o equivalente a toda a população de Porto Alegre – cerca de 1 milhão e meio de pessoas – perdem a vida pelo mesmo motivo. Considerada rara no início do século vinte, a doença tornou-se um grave problema de saúde pública nos últimos 50 anos.
Uma doença que poderia ser evitada
Não há medida mais eficaz para evitar o câncer de pulmão do que não fumar, já que o consumo de derivados do tabaco está na origem de mais de 80% dos casos da doença. Ou seja: se não fosse o fumo, esta poderia ser uma enfermidade rara. Comparados com os não fumantes, os tabagistas têm cerca de 20 a 30 vezes mais risco de desenvolver câncer de pulmão.