Em dezembro de 2011, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, e representantes da indústria alimentícia firmaram um acordo que prevê a redução gradual de sódio em 16 categorias de alimentos, objetivando enfrentar, assim, doenças crônicas como hipertensão e doenças cardiovasculares. O documento estabelece metas, inicialmente, para sete grupos de alimentos que estão entre os mais consumidos pelo público infantojuvenil: batatas fritas e batata-palha, pão francês, bolos prontos, misturas para bolos, salgadinhos de milho, maionese e biscoitos (doces ou salgados). O termo fixa o teor máximo de sódio a cada 100 gramas de alimentos industrializados. As metas devem ser cumpridas até 2014 e aprofundadas até 2016. O acordo inclui a Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação (Abia), Associação Brasileira das Indústrias de Massas Alimentícias (Abima), Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo) e a Associação Brasileira da Indústria de Panificação e Confeitaria (Abip), além da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Mais de 70% dos brasileiros exageram no sal
De acordo com dados do IBGE, o consumo individual de sal, apenas nos domicílios brasileiros, foi de 9,6 gramas diários, enquanto o consumo total foi estimado em aproximadamente 12 gramas diários, o que representa mais do que o dobro do recomendado pela OMS. Esta pesquisa revelou ainda que mais de 70% dos brasileiros consomem mais do que cinco gramas de sal ao dia — o equivalente a quatro colheres rasas de café. O percentual passa de 90% entre adolescentes de 14 a 18 anos e adultos da zona urbana. Convidado pelo AT a opinar sobre a nova medida do Ministério da Saúde, o médico urologista Cláudio Loureiro preocupa-se com a média diária de sal consumida pelo brasileiro – 10 gramas-, o que representa o dobro da quantidade recomendada pela Organização Mundial da Saúde, que é de 5 gramas diárias (no máximo). Por isso, ele define a tentativa de diminuir o consumo de sódio como uma maneira preventiva de evitar doenças cardiovasculares, hipertensão arterial e diversas outras doenças, acreditando que tais medidas, se definitivamente obedecidas, terão impacto significante na saúde do brasileiro nos próximos anos.
Loureiro explica que o sal é essencial para o nosso organismo, sendo uma de suas principais funções manter o equilíbrio de fluidos em nossos corpos. Porém, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), uma alta percentagem da população mundial está consumindo sal em excesso, e o povo brasileiro se enquadra neste grupo: “Desde a mais tenra idade, muitas crianças são induzidas pelos pais a comer alimentos com sal e este é o começo de uma rotina que poderá fazer as crianças se tornarem jovens e adultos que consomem mais sal do que o necessário, em parte incentivada também pela grande comercialização de alimentos salgados.”
Há evidências suficientes que demonstram a forte relação entre a ingestão de sal e pressão arterial elevada (hipertensão), doença que é fator de risco para a ocorrência de doenças cardiovasculares, acidentes vasculares cerebrais, cardiopatia isquêmica e também insuficiência renal crônica. Por isso, ele acredita que a prevenção e o controle da hipertensão podem ter impacto direto em relação à saúde renal do brasileiro, e esta medida de redução do sódio nos alimentos colabora de forma significativa para evitar a ocorrência da insuficiência renal.
Na avaliação de Loureiro, a conscientização de que precisamos mudar os hábitos alimentares é uma questão que não se restringe a uma parcela específica da população, mas sim a todas as faixas etárias. A educação alimentar deve iniciar desde a infância, estimulando-se o consumo de frutas, verduras, sucos naturais: “ Um adolescente que não se alimenta de forma correta e balanceada é um candidato a apresentar problemas de saúde futuros que poderiam ser evitados ou prevenidos desde cedo. As perspectivas futuras, caso os hábitos alimentares não se modifiquem, tendem a ser preocupantes, com aumento de doenças cardiovasculares (infarto, derrame, pressão alta) que já hoje são consideradas as maiores causas de mortalidade e morbidade entre a população adulta.”’
Você sabia que…
• A hipertensão arterial atinge 23,3% da população adulta brasileira (maiores de 18 anos), de acordo com o estudo Vigilância de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel/2010)?
• Os adolescentes brasileiros apresentaram, em relação aos adultos, consumo muito mais elevado de alimentos como salgadinhos – sete vezes maior -, biscoitos recheados – perto de quatro vezes maior -, biscoitos doces – mais de 2,5 vezes maior – e biscoitos salgados – 50% maior?
• As doenças cardiovasculares foram responsáveis por 319 mil óbitos em todo o país, em 2009?