São Francisco de Assis ficou conhecido pelo amor aos animais. Qualquer criaturinha, desde a fera mais bravia até a pomba humilde – ele mostrou na prática – é uma criação de Deus e digna de total respeito. São Francisco ensinou a amar os animais, também os vegetais e as pedras com um amor fraterno.
Fico pensando que o nosso tempo está à espera de um São Francisco novo, um santozinho humilde e compassivo para dar lições de amor, mas agora, de amor às coisas. Vocês também já pensaram nisso?
§§§
Eu tenho pena das coisas. A consideração das coisas anda escassa, muito escassa. As coisas estão sendo vítimas de abuso. Estamos nos acostumando a maltratar as coisas. Cada vez mais.
Você desembrulha um sabonete e nem se digna a usá-lo até o fim, já pega outro. Quer abrir um sabonete de cor diferente, com perfume diferente, com formato diferente. Mas também este vai usar na pressa, você está doido para experimentar mais umoutro sabonete.
Você compra uma camisa linda, dá duas usadas, deixa cair um pingo de catchup na frente e não tem paciência de tirar a mancha. Faz o quê então? Joga pro lado e lá fica ela, até que uma faxina rigorosa a coloque na sacola de doar. E adeus camisa. A peça que foi objeto de paixão vai embora assim no mais. Sem nenhum remorso.
§§§
O mais incrível é que você se apaixona perdidamente pelas coisas. A calça jeans exposta na vitrina desperta um amor urgente. Você imediatamente sabe que não pode mais passar sem ela. O dinheiro anda curto, quase que não dava para comprar a calça. Mas você compra. Sabe que vai ter dificuldade de pagar, mas compra, tem de comprar a calça. Depois, acontece o quê?
§§§
Está fazendo falta um São Francisco das Coisas. Um São Francisco para dar lições. Ensinar a recolher brinquedos largados e perdidos pelos cantos. Ensinar a tirar da chuva a bicicleta. Um São Francisco para cuidar melhor dos estofados. Um São Francisco para dobrar a roupa e raspar a lama dos sapatos. Principalmente, sim, principalmente, um São Francisco para aplacar o afã que traz para casa o que não é preciso e joga fora o que não deve. Um São Francisco para ensinar o amor das coisas. Que também elas são criaturas do Senhor, que as coisas todas nasceram do talento e do esforço de incontáveis mãos, que as coisas estão aí para enriquecer a vida e merecem, por isso mesmo, amor igual ao que merecem os demais seres que compõem o tempo em que nos é dado habitar a Terra.