Estamos finalizando um documentário sobre a história dos muckers no Rio Grande do Sul. São depoimentos e narrativas da história que envolveu muitas famílias também de nossa região. A produção é do canal 20 da Net Lajeado e deverá estar concluída até o final do mês. A intenção é distribuir o documentário também para escolas da região.
A história, que inclusive virou filme, A Paixão de Jacobina, encerrou-se em 2 de agosto de 1874, com a morte de Jacobina Maurer. Nesta semana, portanto, completou-se 137 anos do final do episódio no Vale dos Sinos. Porém, no Vale do Taquari, 24 anos após, um grupo de muckers que havia se refugiado em Colônia Bastos era dizimado inocentemente. Num cemitério abandonado em Linha São João, interior de Travesseiro, ainda restam três sepulturas de seguidores da seita, entre eles, o Jacó das Mulas. Numa das lápides corroída pelo tempo, é possível ler uma inscrição em alemão de uma citação preferida de Jacobina: “Estreita é a porta, apertado é o caminho da vida e poucos o seguirão”.
A revolta Mucker ocorreu entre 1868 e 1874 em São Leopoldo, a primeira colônia alemã fundada no Rio Grande do Sul, prolongando-se com alguns incidentes até 1898. A palavra mucker era usada como sinônimo de “beato”, “fanático”, “santarrão”. Assim os adversários designavam na época, pejorativamente, os rebeldes. A revolta envolveu imigrantes alemães que se reuniram em torno do curandeiro João Jorge Maurer e de sua mulher Jacobina, inicialmente para obter esclarecimentos e, mais tarde, com fins religiosos: acreditavam-se eleitos por Deus para fundar na terra uma nova era, e começaram a trabalhar concretamente neste sentido. Perseguidos por autoridades locais, foram presos, mas libertados por falta de provas condenatórias. Em 1873, registram-se em São Leopoldo numerosos incidentes, como assassinatos e atentados, sendo os muckers considerados seus autores. Em junho de 1874, os adeptos de Jacobina promoveram um ataque em massa contra os principais adversários. Tropas do exército foram deslocadas para a região. Os rebeldes resistiram a três ataques, matando o comandante das tropas legalistas, coronel Genuíno Sampaio.
A 2 de agosto de 1874, a maior parte dos muckers foi morta; Jacobina Mentz, refugiada no morro Ferrabraz, foi cercada e morta por um grupo de soldados. Os restantes foram condenados a penas altas. Os impronunciados mudaram-se para outras colônias onde, anos depois, foram trucidados pela população local.
E entres estes, estão os que haviam se refugiado em Picada May, na então Colônia Bastos, hoje pertencente ao município de Marques de Souza. Nesta localidade, a 26 de dezembro de 1897, foi encontrada morta em sua casa a mulher de um colono. Correu o boato de que os muckers eram os assassinos. Pouco depois, a 3 de janeiro de 1898, um grupo de cerca de 200 colonos reuniu-se e atacou os que julgavam serem os autores do crime, linchando-os e trucidando-os. Entre eles: Jacó Gräbin e seus filhos Jacó e Adão, Filipe Noé e Luiz Künzel. Era o trágico fim dos últimos muckers.
Para o pastor da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) de Marques de Souza, Valdir Frank, diversas perguntas permanecem em aberto. “Sabemos que normalmente os fatos são narrados segundo a ótica dos aparentemente vencedores. E os vencidos deixam de ser ouvidos, porque a sua voz e visão é relegada à irrelevância e ao silêncio por causa de uma análise simplória dos fatos”. No documentário, diversos depoimentos ajudam a compreender estes fatos que fazem parte de nossa história.