Levantamento recente indicou que os gaúchos compõem o contingente de brasileiros que mais retornam ao pago depois de desbravar outras regiões. Isso me deixou intrigado. Certamente seja reflexo do pessimismo que me atinge em relação ao Rio Grande do Sul sob diversos aspectos.
Fico deprimido ao constatar que em diversos segmentos de atividade onde nosso Estado liderava a situação hoje é muito diferente. Na agricultura conquistamos o título de “celeiro do Brasil”, ostentado por décadas, mas atualmente Paraná e Mato Grosso nos superam em várias culturas.
No quesito exportação, já estivemos no topo, mas São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro estão na dianteira há muito tempo, o que fecha vagas de emprego e reduz a geração de riqueza em solo gaúcho. A educação também foi referência da terra farroupilha, mas hoje temos alunos em salas de lata, escolas sem aulas em dias de chuva e um salário deprimente pago aos professores.
A área do futebol está em depressão. Inter e Grêmio lambem feridas em busca do brilho perdido através de títulos nacionais e internacionais. E também são poucos os atletas que nasceram em terras rio-grandenses.
O clima, inclemente e inóspito especialmente nesta época do ano, é um desafio à resistência porque mescla chuva, frio e vento num único dia, como ocorreu no início desta semana. Ao contrário de invernos anteriores, não será preciso aguardar a chegada de agosto para confirmar o teste de sobrevivência…
Encarar a Capital aos 17 anos era como viajar ao exterior nos dias de hoje
Mas talvez a grande marca do gaúcho seja mesmo a teimosia, esta necessidade contínua em desafiar o que está estabelecido como verdade absoluta. Daí esta história de largar tudo na terra natal, partir para o desconhecido, derrubar matas, matar feras, enfrentar moléstias e estabelecer uma nova ordem: montar cidades, organizar a vida social e civil, dotar as localidades de confortos da modernidade. E depois de tudo feito, voltar ao pago e recomeçar.
A modernidade nos permite privilégios jamais imaginados. Como para deixar o país. Para tentar a sorte no exterior basta ter um computador. Com ele se obtém um passaporte, o visto de entrada num país estrangeiro, uma vaga em albergues ou a alternativa de intercâmbio em casa de alguma família receptiva a visitantes. Instalados lá fora, temos a possibilidade de conversar diariamente com familiares e amigos – ao vivo e a cores -, movimentar contas bancárias, manter bate-papos inimagináveis há alguns anos.
Tanta facilidade tira um pouco do fascínio do desconhecido que provocava um frio na barriga do viajante pronto a conhecer novas culturas. Mas esta mania de tomar chimarrão na Rússia, fazer churrasco na Indonésia ou beber cerveja geladíssima na Alemanha – onde a cultura ensina a adoção de temperatura ambiente – nos mantêm permanentemente ligados ao Rio Grande.
Nunca morei fora do Brasil. Mas em plena adolescência deixei Arroio do Meio para me fixar em Porto Alegre. Em 1977 isso se parecia muito com a aventura de ir ao exterior nos dias de hoje. Chegar à cidade grande, morar com outros jovens, aprender a fazer bainha, limpar banheiro, passar roupa e passar cera no assoalho foram pequenas conquistas que ajudaram na minha sobrevivência.
Agora, meu filho mais novo, aos 15 anos, quer passar um mês no Canadá para aprender inglês. Invejo a coragem e a determinação, mas certamente a picanha dos finais de semana e o chimarrão diário estarão presente.